domingo, 23 de agosto de 2020

Desabafos do isolamento social


    Esse é um post de desabafo + tentativa de me fazer presente e dar uma organizada no que tá aqui dentro. 

    Eu acho que estou levando essa história de isolamento até que bem, até por ter vários privilégios que me ajudam a lidar com tudo de uma forma menos estressante. Já estamos no sexto mês (?) de pandemia e posso fazer um resumo de algumas coisas que aconteceram desde então. 

    Tenho aprendido várias receitas novas e percebido o quanto gosto de cozinhar. Sempre fico bem depois de terminar uma receita e finalmente sinto que estou ficando melhor nisso. A minha maior conquista foi finalmente ter aprendido a fazer maçã do amor! O segredo do caramelo é usar um copo dágua pra testar o "barulhinho" do caramelo no ponto.

    Fiz umas entradas no ~journal, imprimindo os "adesivos" e fitas e gostei bastante do resultado, mas resolvi comprar um binder pra continuar fazendo (um mini-fichário transparente, tamanho A6) e enquanto espero chegar, dei uma parada. 

    Também tenho jogado bastante, principalmente em companhia de um amigo. Joguei Stardew Valley, Overcooked 2, Portal 2, Orcs Must Die 2 (não curti muito esse) e praticamente todos os The Sims, principalmente o 1 e o 4. Até gravei alguns pro meu antigo canal no YouTube. Quero organizar um dia para jogar multiplayer com alguns amigos e, se conseguir, registrar em um vídeo. 

    Ah é! Também foi meu aniversário, mais pro meio do isolamento, dia 22/07. Por incrível que pareça, foi um dos melhores aniversários que eu já tive. Eu tenho uma certa dificuldade de organizar comemorações no meu aniversário. Eu sempre tenho vontade de comemorar com meus amigos fazendo algo bacana que eu goste, mas nunca consigo juntar coragem para levar à cabo, pois fico com medo de não dar certo, das pessoas não irem ou irem e ficarem entediadas etc. Dessa vez, como não podia ter convidados, fiz tudo do meu jeito, encomendei um bolo do jeito que eu sempre quis, pedi uns salgadinhos e me arrumei. Comemoramos eu e minha mãe e fiquei muito contente tirando fotos com o meu bolo: 


    Além disso, criei o hábito de tomar sol. Ainda falho em tomar todos os dias, mas tenho tentado. 

    Paralelamente, tenho feito o aprimoramento clínico, atendido, participado dos grupos de estudo e ministrei uma palestra! Fiquei muito orgulhosa dela, tanto da parte estética (fiz toda no site Canva) quanto do conteúdo e da apresentação. Ficou bem completa e fiquei estudando e coletando material desde Janeiro para ela. Apresentei online e bastante pessoas compareceram! Ah, de um desses grupos de estudos que participo, surgiu a oportunidade de organizarmos um Workshop, graças ao espírito de coragem e iniciativa de minhas colegas (adoro me cercar de pessoas assim!). Estamos nos reunindo toda semana para cuidar dos detalhes e ter ideias. A previsão é que aconteça em Outubro, estou bastante empolgada. 

   Além dessas, algumas outras oportunidades bem legais surgiram nesse isolamento, como duas entrevistas (sobre Psicologia) que eu dei para uma revista famosa de cultura pop e minha participação em um documentário! Também recebi o convite de uma amiga arquiteta para fazer uma live para o perfil profissional dela, sobre os efeitos psicológicos do isolamento social e nossa relação com nossas casas. 

    Esse está sendo um dos lados bons disso tudo, as movimentações digitais com ideias bastante empolgantes. Falando nisso, preciso criar logo meu perfil profissional no Instagram. Estou procrastinando bastante pra isso. Quando criar, quero fazer alguns conteúdos de Psicologia para o TikTok também (pois é). No começo do ano eu estava bastante empolgada para criar um canal no YouTube sobre Psicologia, com o objetivo de difundir conhecimento científico, mas acabei dando uma desanimada por dois motivos principais: 1. falta de equipamento, percebi que preciso pelo menos de um microfone melhor e de iluminação. Até encomendei um tripé baratinho, mas está beeem atrasado pra chegar. 2. parece que o Instagram e o TikTok estão sendo mais eficientes para a produção e compartilhamento desse tipo de conteúdo. Mas ainda não descartei totalmente a ideia. Se eu for criar algo para internet, provavelmente usarei essas 3 plataformas. 

    Estou tentando me movimentar mais de forma a manter contato com as pessoas importantes para mim, principalmente agora que só tenho a internet como recurso. Acho que estou ficando melhor nisso. Por outro lado, ainda tenho dificuldades de pensar em atividades diferentes para fazer com a minha mãe, uma vez que ela está sentindo os efeitos do isolamento mais intensamente, acredito eu. Atividades que ela goste, no caso, porque já pensei em várias que ela não curtiu. Minha próxima tentativa vai ser tentar montar um quebra-cabeças de 1000 peças com ela (no passado ela gostava bastante), encomendei e estou esperando chegar. Minha psicóloga sugeriu fazer algo com aquarela, pois mexer com tintas tem um efeito terapêutico muito bom. Vai ser meu plano B. 

    E, por fim, continuo fazendo análise. Eu tinha cogitado parar, no início do ano, mas depois percebi que esse é um dos períodos mais importantes para eu fazer acompanhamento terapêutico (início do meu exercício profissional e, agora, essa pandemia). E, justamente por causa do isolamento e da diminuição do ritmo do cotidiano, estamos conseguindo elaborar questões muito mais profundas e essenciais. 

    No geral, tenho o privilégio de dizer que está sendo um ano bom para mim, apesar da inevitável solidão. Claro que diariamente tenho que lutar para não me deixar imobilizar por todas as coisas horríveis que estão acontecendo, a nível de política, saúde, educação, direitos humanos, tudo. Mas não podemos deixar de nos afetar, inclusive é importante que nos afetemos. 

    Esse período de reflexão e análise me fez chegar em algumas conclusões sobre o que é importante para mim e o que quero incorporar mais ativamente na minha vida nos próximos anos :

1. mais oportunidades de contato e trocas verdadeiras com meus amigos e família. Isso sempre foi essencial para mim, talvez um dos aspectos que considero mais importantes na vida, mas sempre me pego não conseguindo ter relações satisfatórias com as pessoas, como se existisse uma muralha que me separasse delas; 

2. uma atividade criativa fixa para qual possa me dedicar mais e com mais profundidade. Estou sempre me envolvendo com atividades criativas e obtendo satisfação imediata com elas, mas nunca por tempo suficiente a ponto de perceber uma evolução e, principalmente, a ponto de alcançar a elaboração de minhas questões internas. Sinto que é isso que busco com essas atividades mais lúdicas. Sinto falta de como conseguia usar desses instrumentos para essa função específica quando era criança. Eu ficava o dia inteiro desenhando histórias em quadrinho ou escrevendo historinhas para lidar com meus problemas. Quando cresci, aprendi formas mais maduras de fazer isso, mas ainda sinto essa lacuna deixada pela arte como forma de expressão e elaboração. Principalmente algo que me permita contar histórias. 

3. me engajar mais politicamente. Eu procuro atribuir um propósito social e político ao meu trabalho quando planejo atuar com prevenção da saúde mental, especialmente na infância e em escolas municipais. Dei início a esse projeto com o trabalho social que eu fazia na escola antes da pandemia, mas eu pretendo levar mais adiante, fazer meu mestrado em cima disso e encontrar meios de difundir ainda mais essa prática, de maneira cada vez mais acessível. Entretanto, sinto falta já faz alguns anos de me envolver mais em grupos de militância. Em 2013 tive um envolvimento bem intenso, tanto pelo cenário político quanto pelo meu contato com a universidade pública, e hoje sinto falta. 

    É, acho que consegui resumir bem como os últimos seis meses de isolamento social tem sido para mim. Tenho levado as medidas bastante a sério, pois minha prioridade no momento é minha saúde e a da minha mãe, assim como a promoção de saúde no geral. Em alguns dias, como hoje, a solidão bate mais forte, somada a um sentimento de "irrealidade". Ainda mais quando vejo pessoas agindo em negação, vivendo como se nada estivesse acontecendo + tentativas mais explícitas de gaslighting que tenho presenciado. Mas é nesses momentos em que precisamos nos agarrar às evidências e ao que é mais importante no momento, nos compromissos que acordamos conosco mesmos.

    Nas últimas semanas aconteceu uma situação chata que não vou detalhar por aqui por questões éticas. Foi o único acontecimento pessoalmente ruim de 2020, o que é incrível, sinceramente hahaha. Essa situação me colocou em uma posição de precisar questionar princípios éticos e morais que eu possuo e refletir bastante sobre qual decisão tomar para resolver da melhor forma, sem entretanto deixar de sanar algumas injustiças. Estou nesse processo de tomada de decisão. Como sempre, ser forte para chegar à conclusão mais justa é o movimento que me ampara. Mas está sendo difícil, por vezes sinto uma sensação de impotência ao me deparar com o limite alheio, o que é uma das experiências mais humanas mais essenciais. Seja o que eu decidir no final, sei que vai ser o melhor que podia ser feito no momento. 

    Ademais, quero continuar cuidando da minha saúde. Tenho me preocupado com consumo exagerado de açúcar e carboidratos no geral. Por causa da pandemia, parei o acompanhamento nutricional e o crossift. Passei uns 2 meses malhando em casa, mas depois desanimei e não consegui voltar, até por medo de fazer mal pro joelho (o amigo que me acompanhava acabou se machucando). Mas não quero ir a médicos agora, prefiro esperar a vacina. Como sempre, tenho que dar um jeito de comer mais proteínas e legumes, mas minha dificuldade maior é encontrar receitas que eu goste.

    Estou contente por ter conseguido externalizar um pouco o que tem se passado pela minha cabeça. Tenho buscado me fazer mais presente no momento, até pelos meus estudos recentes sobre Mindfulness e terapias comportamentais da terceira onda. Nem sempre é fácil, mas seguimos tentando e recorrendo a todos os métodos que temos à disposição :)

 

 

 

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Déjà-vu

Esse é  um pré-poema
Para você, que finjo conhecer
Para você, cujo reconhecimento já me é mais caro que a desilusão que preconcebo sem saber.

Para ti, que fala diferente,
Que é diferente,
Que sente diferente,
Mas eu quero que perceba em mim sua igual.

Para mim, que repete padrões
Que busca refrões
E conexões perdidas,
Mas na fuga do que é meu volta sempre ao princípio daquilo que não me foi permitido concluir.

Para um não-nós
Que do nosso encontro se preconiza,
Pois de interrupções passadas constituiu-se
Esse desejo latente de fazer diferente, negando o que existe de mais essencial e da gente.

Para um Outro inespecífico
Que não sente falta do outrora
Desfaz laços sem demora
E não tenta resgatar a espontaneidade perdida e própria dos primórdios da infância.

Para o pedaço de mim que me deixou,
Não uma, mas duas, dez, vinte vezes
E vejo agora refletido em você
Que procura tudo, menos uma pessoa incompleta.

Para um tu que nunca foi meu,
Que nunca fui eu,
Mas eu reconheço com a propriedade de quem revisita uma memória longíqua e distorcida.

Para alguém que não conhece minha história
E para quem apresento a versão mais asséptica
Na prolixidade de palavras que compensam a ausência de detalhes em comum.

Para você, que não é passado nem futuro
Fusão de medo e desejo, sonho inseguro
Previsão de outro não-término organizado em pré-palavras não ditas
Com a esperança de nunca se tornarem proféticas, sensatas e malditas.

domingo, 9 de junho de 2019

Negação

(repost: 2014)

que pessoa eu teria sido
se o Eu que conheço jamais tivesse existido?

uma criança feliz
uma adulta progressista
uma esposa ordinária
uma boa mãe

a cópia fiel de meus pais
com sua má índole e todo o resto
só mais uma no mundo,
mas de um jeito único

o floco de neve que nunca conheci
a gota d'água que nunca bebi

que pessoa eu teria sido
se não tivesse nascido?

uma pessoa boa em seu leito no hospital
um homem ensinando para o filho os segredos do futebol

ah, se eu já não tivesse me esquecido
de tudo o que não cheguei a aprender

ah, se eu tivesse escolhido
uma forma mais fácil de não pensar

que pessoa eu teria deixado de ser?

O sol

(repost: 2014)

Enquanto eu espero o tempo passar 
tentando me decidir
o mundo não para e eu nem quero seguir

O sol está lá fora
e eu sequer preciso de uma chave
E o som das pessoas é diferente quando se está entre elas

Meus pensamentos já funcionaram melhor voltados para o alto
e agora é difícil externar um sequer

Devia ter feito um mapa enquanto sabia o caminho 
A introspecção pode ser tornar um labirinto no qual você gosta de se perder

Procurar pode ser divertido, 
mas cansa quando se encontra tudo
menos você

É difícil quando todos sabem mais
e tão pouco sobre o que é essencial

É triste quando parece tão fácil 
para aqueles que sequer estão procurando

Às vezes o mundo está onde ninguém pode te encontrar, 
mas o sol sempre estará do lado de fora

E as janelas são tão pequenas
E eu queria não ser apenas
alguém que precisa de luz.

Amor

Amor não existe
É concepção, abstração
Condicionamento
Desvio libidinal
Instinto de sobrevivência
O esforço coletivo e inconsciente de uma espécie que teima em existir

Existência é subproduto químico
Malabarismo retórico
Organização poética de moléculas
Coincidência
Cadeia de eventos aleatórios
Intervalo de tempo entre o que deveria ser e o que não foi

Ser é verbo
Fragmento de fonema
Sibilo, sussurro, pretenso dilema
Cordas vocais vibrando
Latido humano tal qual palavra balida, sentida
Ser é sentir
O ar passando pelos lábios e alcançando o dossel do pensamento filosófico

Pensar não é razão
É proporção
Associação livre, psicodinâmica
Organicidade adaptativa
Neurotransmissor viajando por fenda sináptica
Glutamato, GABA e serotonina
Produzindo interpretações sobre o que é amar

Amor não existe
É coração enquanto símbolo do que acontece no genital
Puberdade, fantasia
Sincronia entre gozo e ciclo estral
É semente que se planta, lubrificando o caminho, como mantra, para findar no tecido endometrial

Amor não existe
É construção, necessidade
Reprodução das nossas relações objetais
Vontade de quebrar as fantasias incestuosas que tivemos com nossos pais
É identificação, transferência
É um grito de liberdade e, sobretudo, de não existência

Jardim

Um amor que de fatos se dispõe 
para decompor o mais remoto ato de coragem

Que só existe no futuro dos meus mais lúcidos sonhos diurnos
já que dos noturnos eu me privo por não dormir

E é dos olhos que só se fecham nos momentos errados
que eu mais preciso no anseio da verdade
que não posso te contar

Um amor que da realidade se esconde
quando nos julgamos desmerecedores de um presente feliz

Queria nunca ter comprado suas fantasias de impotência
Sua fadiga, minha dormência
que a ambos nos impede o despertar 

Foi por no passado tanto ter mentido 
que nunca me foi permitido, do translúcido mistério,
entender o que é o amar

Um amor que feito semente patogênica
fez da terra seu poema 
de flores de plástico e palavras de aço,
frias como uma queda ao fundo do mar.


Inconsciente

Meu amor é uma desarmonia
entre o pensamento, a palavra e o sentimento.

Às vezes o sinto com um protesto pacífico
pelo direito que me reservo de ansiar a felicidade.

É um grito de liberdade que, camuflado,
confunde-se em desejos ambivalentes de palavras mastigadas em silêncio.

É uma sugestão psicanalítica que tenta pegar de surpresa uma mente que nunca, jamais, vacila. 

Nossa é a ausência do afeto que se esconde no último lugar que a gente procuraria um no outro.

É de cansaço que meus sussurros se tornam música
assoando seus sentidos que, de tão esquecidos, não conseguem mais amar.

E, se de medo eu me faço
é em pequenos momentos de coragem que desfaço
todo o esforço empregado no bom senso escasso 
que só cabe no abraço
que eu nunca vou te dar.


Hiância

Sinto falta da sua busca de paz em mim
Me diz, você cansou de procurar?

Ou encontrou em outro lugar o que eu mesma esqueci onde guardei?

Você me devolveu os pedaços
que me tiraram ao longo do caminho

Mas agora, completa, não sou metade do que te cativou

quarta-feira, 15 de março de 2017

Associação

O cansaço me cansa
mais que o medo do fracasso

O compasso de uma dança
que me distancia do abraço dos seus braços

A ternura se encarrega
da mentira e da tortura

A tontura que me cega
outros chamam de loucura

A mente que flutua
entre intervalo e melodia

O grafite que improvisa
a verdade e a fantasia

Palavras óbvias que se encaixam
pela associação rítmica e precondia

Uma rapsódia que extravasa
os anseios de uma fala rasa, temerosa e vazia

sábado, 7 de janeiro de 2017

Sorte

      Às vezes é assim que eu lido com as coisas. Eu imagino que a dor não é minha. A dor pode pertencer a mim, mas quem sou eu que não toda a humanidade? Individualmente, a dor pertence ao ser humano que sou, mas enquanto ser humano não posso ser menos do que o ser humano enquanto espécie. Quero dizer, minha dor individual e banal nada significa perante a minha existência enquanto cada alma que já passou por este planeta. "Eu" não me restrinjo à pessoa que sou, mas a tudo o que posso ser ou poderia ter sido. É questão de sorte ou acaso que "Beatriz" não seja o nome da minha vizinha. Eu poderia ter sido qualquer outra pessoa com tanta certeza quanto sou a mim mesma. Se "ser" é um verbo, então não é natural que possa ser qualquer outro? Sendo a todos ao mesmo tempo, minhas dores tornam-se inexistentes no momento em que se tornam desconhecidas. Não era de se esperar, então, que a dor de todos os outros "eu" aflorassem em conjunto, engrossando o sofrimento? Creio que não, pois a dor só é compreensível quando sentida individualmente, restringindo-se ao contexto daquele produto de histórico pessoal. Quando você é todos os outros, a dor existe, mas não pode ser sentida, por mais que se tome consciência dela mais do que nunca. Você toma consciência de uma dor gigantesca, holística, mas se torna imediatamente incapaz de senti-la. Ou melhor, você sente sim. Mas "sentir" ganha um novo significado. Tudo ganha um novo significado. Eu poderia dizer que o que era "sofrer" torna-se "prazer", mas até esses dois conceitos tem seus significados reinventados. Não é "diferente". É o mesmo que você sempre sentiu, só que em proporções nunca antes imaginadas. E é assim, imaginando o que não pode ser imaginado que eu lido com as coisas.

 (Não sei ao certo quando escrevi esse texto, mas o encontrei perdido em uma agenda velha. Achei digno de registro)

(A despeito do último post, queria fazer um adendo. 2016 foi uma "eterna férias" que durou 6 meses. O segundo semestre de 2016 foi uma verdadeira loucura. E acabou tudo bem, talvez da melhor forma possível. Começo 2017 bem feliz!)

sábado, 18 de junho de 2016

O que ando fazendo nessa eterna férias chamada 2016?

Eu realmente amo o meu blog. Eu já tive vários, mas eu amo esse em especial. Eu amo as cores, o conteúdo aleatório que vem se acumulando desde 2009, a sala dos amigos imaginários, o nome, a lembrança do nome antigo (Não Sou Um Bolinho de Arroz, alguém lembra? Claro que não), os blogs fantasma do blogroll, os áudios dos meus improvisos no piano, o registro bagunçado e espaçado da minha vida. Tem posts aqui que são uma visita ao âmago do meu ser. É sério, por mais ridículo que isso soe. E eu realmente queria voltar a usar esse espaço. Tem um post aqui chamado 2016 que eu deveria reler todos os dias até 2016 acabar, feito aquele cara do filme que sofre de perda de memória recente e precisa reler seu diário todos os dias pra se situar. Enfim, essa sou eu recomeçando. De novo.


2015 foi o ano mais produtivo da minha vida até agora. Talvez um dia eu faça um post sobre isso, tal qual a retrospectiva 2013. Mas não hoje. Hoje vou falar sobre 2016, o ano menos produtivo da minha vida. Até agora.


A despeito deste ser um post sobre não-produtividade, a verdade é que eu queria mostrar para mim mesma que meus dias tem sido sim recheados de pequenos avanços. Tenho lido bastante e finalmente estou estudando o que sempre quis estudar: Psicologia. 
 

Comparado à empolgação que senti no primeiro ano do curso, é natural que esse aqui pareça meio estagnado. Mas a verdade é que continuo aprendendo lições de vida valiosas a cada dia, que é o que fez com que eu me apaixonasse pela profissão em primeiro lugar. Ainda que não acredite que vá me tornar uma behaviorista, aprendi com Skinner a repensar todas as minhas motivações. Uma vida orientada por reforçadores positivos é mais saudável do que uma orientada pela fuga da culpa.


Tenho aprendido a permitir que as coisas me inspirem. Não resistir. Simplesmente me entregar à inspiração quando ela me encontrar. É, pois é, sempre achei plantas dentro de casa algo bonitinho.
 
 

Dei uma arrumada no meu quarto, coisa que vinha adiando desde que voltei para cá. Chamo essa escrivaninha de "cantinho da produtividade". Tudo o que está nela me lembra de um período particularmente produtivo da minha vida. E organizar o espaço foi o primeiro passo para resgatar toda essa motivação.


Falando em resgatar, voltei a dar uma chance a certas crenças antigas que se viram abandonadas antes mesmo de terem tido a chance de se firmar. Tenho tentado ler bastante também.


Academicamente falando, não tenho muito do que me queixar. Finalmente consegui estabelecer uma rotina de estudos que dá certo. Fiz todos os trabalhos com antecedência, o que me garantiu um final de semestre muito mais leve.


Uma coisa meio boba é que tenho gostado muito dos tons amarronzados/avermelhados da minha casa. Digo, voltei a apreciar essas pequenas coisas. A forma como a luz entra no cômodo. Um ambiente reconfortante. Estou reaprendendo a me sentir confortável, ou a me permitir relaxar quando tá tudo certo.


Minha autoestima também anda melhor. Um novo cabelo, novos penteados, novas roupas. Pessoas novas, programas novos. Superando pequenos traumas e complexos. Aprendendo a aceitar afeto e a desejar companhia. Também tenho percebido novas inseguranças, o que é de se esperar. A novidade é que agora elas vem acompanhadas da consciência de que são superáveis e parte da vida. Aprendendo a olhar para mim mesma com olhos menos críticos e mais realistas. Não posso ser justa com as pessoas se for uma carrasca comigo mesma.

Enfim, eu realmente gosto desse espaço. Vou tentar me sentir confortável aqui mais vezes.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Queria muito ressucitar isso aqui e começar a fazer algumas coisas que eu realmente queira fazer, para variar





Bem jogado, no impulso, porque cansei de me distanciar dos meus objetivos por planejar demais ou pensar demais e no fim acabar percebendo que nunca cheguei a saber o que realmente queria.

Ouvindo músicas que não ouvia faz, no mínimo, sete anos. Que se não para me lembrar de coisas ruins, que me lembrassem que tenho motivos para me sentir aliviada.

Só que não estou me sentindo aliviada. Estou me sentindo... como sempre me sinto de tempos em tempos, como acho que não vou mais me sentir porque é o que sinto antes das grandes mudanças. Das mudanças que se tornam primeiro lembranças e depois percepções do que nunca serão.

Sabe, eu não comecei a escrever isso aqui para deixar as metáforas me levarem ainda mais longe do cerne dos meus pensamentos. Nem para parecer uma pedante dos infernos usando a expressão "cerne dos meus pensamentos".

Eu abri outra pasta de músicas porque "minhas composições" me chamou a atenção. Eu não tenho composições.

Ainda é difícil olhar para dentro. A possibilidade de nunca ser capaz de me fazer feliz assusta mais que o prenúncio do caminho a percorrer. Porque eu sei que canso fácil. Talvez me falte preparação física, fôlego, destreza, jogo de cintura, segurança na criação, experiência, maturidade, sorte, fé. O problema é que não poderia me importar menos com o que me falta. O que me assombra é o que eu tenho de sobra e me sobra e me é inútil e vai me doer jogar fora. E eu tenho medo de não restar nada além de uma gigantesca propensão ao desperdício.

Metáforas, metáforas, blablabla. Dentro da pasta, quatro arquivos: "dentro de alguém", "dentro de mim", "dentro de mim 2" e "qualquer coisa". Estou ouvindo em looping o arquivo "dentro de alguém.wma". Sim, sou eu tocando. É estranho.
 
Vamos ser objetivos. Ou não, porque talvez eu realmente não consiga. Mas o serzinho x, vamos falar dele. Vinte e seis anos, mesma faculdade e academia que eu, estivemos nos mesmo show de rock e stand-up de comédia ano passado, sem saber. Grande coisa, moramos na mesma cidade interiorana, afinal de contas. Situações escrotas dignas de comédia romântica das piores, em que os protagonistas são rasos feito facas e pessoas como eu assistem, indignadas, sentindo-se peixes fora d'água na plateia. "Eles não tem um motivo sequer para se apaixonarem!". "É só sexo!" Antes fosse. Em vez de me sentir mais conectada ao mundo dos adultos do qual tanto almejo fazer parte, me sinto mais adolescente do que nunca. No pior dos sentidos. Minha adolescência nunca foi lá grandes coisas mesmo. Um mar de vontades e desejos que não me deram repertório para almejar ou sequer compreender, preenchendo de vazio meu coraçãozinho de gelo. O vazio gelado daquilo que já não te pertencia quando te ensinaram a cobrar.

Penso se um dia vou abrir mão das minhas fantasias de ver o mundo com olhos de fora, como se eu mesma fosse uma extraterrestre ao mesmo tempo fascinada e apavorada pelas loucuras mundanas. Se um dia vou admitir que é mais real que fantasia. Se um dia vou parar de cantar vitória por não ter medo de machucar sentimentos alheios só porque não consigo admitir o terror que sinto de que machuquem os meus.

Às vezes fico pensando se o que tive foi azar por não ter amigos que me arrastassem pro mau caminho, ou pra qualquer caminho, já que juízo de valor nunca fez muito sentido por aqui. Mas acho que não, sempre pareceu dar bastante certo pra todo mundo ao meu redor. Talvez tenha parecido que deu bastante certo pra mim também.

Eu queria me apaixonar pelo menos uma vez. Assim, de verdade, por alguém palpável. Que não fosse uma obsessão ridícula. Queria ter pelo menos uma chance de chegar no futuro e perceber que não foi tudo uma ilusão de menina tonta.

Queria ter sentido qualquer coisa na minha primeira vez. E na segunda. E na terceira. Queria que tivesse passado algo pela minha cabeça mais próximo de "ok, não fique ansiosa, curta o momento" do que "...será que algum dia existiram SENTIMENTOS dentro de mim???".

E hoje, finalmente, depois de tanto tempo que eu não soube classificar como apatia ou paz de espírito, me senti triste. Uma tristeza meio sem sentido ou contexto, vontade de chorar até, que foi o que mais me impressionou. Faz pelo menos uns sete anos que só choro projetando o que acredito ser tristeza nas histórias que narro para mim mesma de madrugada. Mas dessa vez fiquei esperançosa, talvez seja algo visceral, autêntico, sincero. Pelo menos uma vez na vida.

Foi quando eu percebi.
 
"Me dá um Postinor."
"Um o quê? Pode soletrar, por favor?"
"Pê, o, esse, tê, i..."
"Desculpa, não achei aqui no sistema"
"Procura algo composto por levon.. vorno.. levonorgestrel, acho"
"Ok. AH! Se você tivesse falado de outro jeito eu saberia na hora, hehe. Vou buscar"
"Hehe... ok."

E era só uma bomba hormonal.